Jogos Olímpicos - A Chama Não Se Apagou

Antes de qualquer coisa, parabéns Nelson, parabéns Vanessa.

Agora sim vem o post.
Eu que nem postei nada sobre os Jogos Olímpicos até à data, acompanhei assiduamente a competição e sem dúvida que deu para guardar alguns momentos marcantes, quanto mais não seja pela sua originalidade.

E que melhor maneira de começar que não falar daquele ser humano que nem o parece ser? Um tal de Michael Phelps não fez mais do que bater o recorde de Mark Spitz (Munique'1972) que tinha conquistado 7 medalhas de ouro na natação, alcançando mais uma. O mérito é todo dele, mas a vitória parece ser geral pois deu-me a sensação que toda gente o queria ver exibir como se fosse algo banal uma medalha de ouro, e depois outra, e outra, e outras tantas até à 8ª. Essa sim fez o mundo delirar. Só não delirou quem se roeu de inveja.

Passamos do ouro para o bronze.
400 metros depois 3 americanos alcançaram os 3 lugares do pódio e não foi essa a surpresa. A surpresa foi o bronze ter sido alcançado por David Neville que se encontrava em 4º lugar um metro antes de cortar a meta. Dando o tudo por tudo o americano projectou-se totalmente caindo aquando alcançava a meta. Esta queda fez com que o seu corpo passasse primeiro a linha da meta do que o adversário. Venceu a medalha de bronze por uma centésima graças a uma queda. Aposto que se fosse sempre assim ele não se importaria de estar sempre a cair. É o que se pode chamar: queda em ascensão! E assim medalha do inacreditável foi entregue !

Os nossos portugueses também deixaram as suas marcas nos JO. Pena é que não foram sempre pelos melhores motivos.

Marco Fortes protagonizou muito provavelmente o momento de maior polémica.
"De manhã só estou bem na caminha". Foi esta a infeliz frase que fez com que meio Portugal ficasse chocado e passasse a palavra à outra metade. Realmente foi um momento muito pouco gracioso e a revolta dos portugueses pela fraca prestação lusa nos JO veio à tona.
Após ouvir a explicação do atleta, fiquei esclarecido e aliviado. Não me parece de todo normal que um atleta de alta competição dissesse isto e estivesse a dizê-lo de coração. A justificação é feita através do humor. O campeão europeu de juniores em 2001 e único português a conseguir ultrapassar a barreira dos 20 metros no lançamento do peso disse que é um humorista nato e por ter falhado as expectativas após 10 anos de treino, usou o humor como forma de descarregar a frustração que sentia no momento. Se é assim parece-me ser apenas um senhor que faz jus ao seu apelido. E acho que é nisto que devemos acreditar.

Naide Gomes, a desilusão. Foram muitos os que não alcançaram as expectativas, mas a especialista no salto e comprimento e muito provavelmente a melhor nesta modalidade falhou como nunca seria de esperar. 3 saltos, dois nulos e outro a medo afastaram-na da hipótese de chegar a uma medalha. Depois de muitas coisas que li sobre isto, creio que o que realmente falhou foi a parte estratégica e não a parte física. Não haveria necessidade de arriscar tanto no primeiro salto. Um salto que a fizesse garantir a presença na próxima fase daria mais confiança para os seguintes saltos. Mas isto é apenas a opinião de um adepto leigo. Muito provavelmente ela e o treinador saberiam melhor o que estavam a fazer.

E como o melhor fica para o fim, restam-nos os 3 atletas com melhor classificação. O velejador Gustavo Lima ficou a 1 ponto, mais propriamente a 16 segundos das medalhas e conquistou o honroso 4º lugar. Conquistou-o e disparou em várias frentes. Criticou o projecto olímpico português pelo João Rodrigues (velejador vice-campeão do Mundo e campeão da Europa) não fazer parte do mesmo, decidiu abandonar as competições alegando as esperanças frustradas e as pressões. E vai mais longe. Diz que "após 13 anos de vela receber 1000 euros por mês não é suficiente para um atleta que leva a bandeira a todo o lado."
Há que valorizar toda a sua luta.

Outra boa notícia foi a prata de Vanessa Fernandes. Não considero uma surpresa porque toda gente conhece o seu valor, mas alcançar o segundo lugar numa prova onde não estava tão apoiada como as australianas que completaram o pódio é um grande feito. Não deve ser fácil competir sozinha contra duas atletas que têm estratégias montadas para garantir os primeiros lugares, e mesmo assim ela conseguiu ser a segunda melhor de todas! Parabéns por isso!

Finalmente o ouro.
6 saltos. O primeiro deixou água na boca, o problema foi quando o britânico Phillips Idowu ultrapassou os 17.31m de Nelson Évora com uma descontracção pouco natural deixando antever que a luta ia ser muito difícil. Nova ronda, novo salto e o atleta português nascido na costa do marfim há 24 anos atrás subiu a parada: 17.56 m que não foram batidos por ninguém até à 3ª ronda. Aí a fé tremeu. As novas marcas do Phillips Idowu e do Leevan Sands das Bahamas atiraram o filho de pai cabo verdiano e mãe costa-marfinense, que fez nulo nesse salto, para 3º lugar.
O olhar estava atento à televisão que mostrava apresentação de outras provas. O coração disparava com a ansiedade.
Olhos no horizonte. Concentração total. Após anos de treino era agora o momento decisivo. Lançou a corrida crescente, sentiu a linha de chamada e 1, é altura de dar força ao salto e 2, é agora, o último passo antes do voo e 3, e lá vai ele, o seu corpo parece contrariar a força da gravidade, a sua garra faz com que não desça e agora sim, vai cair, vai cair .. e já está ! 17.67m depois, Nelson Évora cai na areia banhada a ouro. A emoção manteve-se até ao final da prova, mas mais ninguém superou este salto. O seu último ensaio, já com a medalha garantida, foi feito apenas com o coração. Caiu na areia com o pensamento bem longe dali, bem perto dos seus e a alma lusa engrandeceu-se como há 12 anos atrás aquando a conquista da Fernanda Ribeiro.
O jovem prodígio encheu-nos de orgulho, e no meio de tantas qualidades o que mais me impressiona é a sua humildade. Um campeão que é campeão não o é só nas pistas, estádios ou piscinas, tem de o ser fora delas também. E isso ele é, um verdadeiro Campeão.

Um obrigado a todos os que honraram o nome de Portugal, e um obrigado igualmente grande a todos os que se esforçaram para o conseguir honrar !